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O Sonho do Rei Janaka

O Sonho do Rei Janaka
Narração das Upanishads pelo Pandit Sudarshanjee


Uma vez, o rei Janaka, pai da princesa Sita, heroína do Ramayana, estava dormindo. Ele sonhou que o rei vizinho atacava seu reino e que acontecia uma guerra.

No sonho, ele foi capturado e o rei vitorioso lhe disse: “seu reino agora é meu. Ou ordeno que você deixe meu palácio”. Janaka pensou: “quem vai me ajudar agora?”

Ele saiu andando do palácio. Viu as portas das casas fechadas. Nenhum dos seus antigos súditos lhe deu comida, pois tinham medo de serem decapitados pelo rei vitorioso, conhecido pela crueldade.

Depois de cinco dias andando sem se alimentar, chegou à fronteira do reino. Já fora do país, pediu comida numa casa. O dono da casa lhe disse que havia um banquete público acontecendo perto daí.

Contudo, quando ele chegou, a comida tinha acabado. Voltou para a casa do homem, que tampouco tinha como alimentá-lo. Mas, lhe ofereceu um pouco de forragem de arroz com picles, a única coisa que pôde achar na casa. O rei comeu com vontade, e ficou feliz e aliviado.

Ao acordar do sonho, perguntou-se: “o que é verdade? O que vivi no sonho, ou o que estou vivendo agora?”

Seus assistentes ficaram preocupados, pois viam ele perguntando-se o tempo todo: “isto é a verdade ou aquilo é verdade?”

Resolveram chamar o sábio Yajñavalkya para que pudesse ajudá-lo. O sábio lhe disse: “quando você estava comendo a forragem de arroz, este palácio era seu?”

“Não”, respondeu o rei.

“E, agora que você tem este palácio, aquela penúria existe?”

“Não”, disse Janaka.

“Então”, disse o sábio, “nem isto que você tem aqui era verdade no mundo do sonho, nem aquilo que parecia real no sonho é verdade no mundo da vigília.

“Porém, esse Ser que você é, estava presente no sonho, permaneceu presente durante o sono, e está presente agora, na vigília. ”

Metaforicamente, este conto nos fala sobre a contradição que existe entre os três estados de consciência. Por exemplo, eu posso ser uma pessoa de condição social muito humilde, mas sonho que sou um imperador. Por outro lado, a agitação característica da vigília ou do sonho, é anulada, por sua vez, pelo pacífico estado do sono profundo. Ou seja, não há continuidade entre os três estados.

Sendo esses estados transitórios, nenhum deles pode ser o Ser, assim como já foi demonstrado que ele não é nenhum dos corpos ou camadas. Não obstante, o Ser permanece durante a vigília, o sono e o sonho. O Ser estava presente no sono, permaneceu presente durante o sonho, e está presente no estado de vigília: você dorme, o Ser está presente; você sonha, o Ser está ainda presente; você acorda, o Ser ainda permanece. O Ser não vá embora quando você muda de estado de consciência.

A Verdade sobre o Ser não muda. Ela não é relativa, nem depende de condições externas. Nada pode entrar em contradição com ela, nem os estados de consciência, nem as experiências que temos neles, nem mais nada que possa depender do espaço-tempo. Resumindo, o Ser existe sempre, independentemente dos três estados de consciência.

Todas essas variedades de estados são dependentes do Ser e que elas não têm existência separada dele, que é ilimitado e eterno. Negando então todas as falsas identificações, superimposições e confusões, chegamos no conhecimento daquele Ser que é, foi e será. Existe uma conexão ente o fogo e a fumaça. Se houver fumaça, haverá fogo. Porém, não pode haver fumaça sem fogo. Similarmente, para haja manifestação, nascimento e vida humana, a presença do Ser e necessária.

Conto narrado pelo Pandit Sudarshanjee, venerável ancião, visitante do Ashram de Swami Dayananda, em Rishikesh, Índia. A tradução e as notas explicativas sobre os estados de consciência foram feitas por Pedro Kupfer, estas últimas, com base nos ensinamentos de Swamiji.

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